Ler o quê?

Anselmo Heidrich
3 min readSep 19, 2019

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“Muitos pais estão estressados ​​com toda a pesquisa que diz que a leitura está ligada a coisas como sucesso acadêmico, sucesso nos testes, função executiva e bem-estar emocional”, disse-me Paul. “Saber tudo isso faz os pais pensarem: ‘Ok, meu filho precisa ser um leitor’”. Essa mentalidade pode levá-los a considerar a leitura para os filhos como uma obrigação. “As crianças basicamente percebem isso logo de cara — as crianças sabem, por exemplo, se você está tentando fazê-las comer algo que é bom para elas”, disse Paul; o objetivo é apresentar a leitura não como “espinafre”, mas como “bolo de chocolate”.

Ler parecerá mais bolo de chocolate se for algo em que os próprios pais participem feliz e regularmente. “Quando estou sentado no meu sofá, lendo um livro, e meus filhos estão fazendo suas próprias coisas, eu gosto de pensar: ‘Estou sendo pai agora — eles podem me ver lendo este livro’”, disse-me Russo . Da mesma forma, Paul disse que se “logo após o jantar, a primeira coisa a fazer é percorrer o telefone, abrir o laptop ou assistir à TV”, é provável que as crianças tomem nota. Os pais estão constantemente enviando mensagens aos filhos sobre como eles escolhem gastar seu tempo livre.

Why do some people love reading and others don’t? @jpinsk investigates https://www.theatlantic.com/education/archive/2019/09/love-reading-books-leisure-pleasure/598315/?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=share

Eu sou brasileiro e como tal, padeço em um país cujos índices de leituras são baixíssimos. Meu pai foi agricultor e quando migrou para a cidade realizou um de seus sonhos, colocar os filhos em uma faculdade. Deixamos de ter férias em praias porque ele gastava suas economias pagando por uma enciclopedia e outros livros, sim, tínhamos uma biblioteca em casa e para uma família de classe média baixa do sul do Brasil passamos décadas sem ter um automóvel. Agradeço por tudo isso, o que realmente nos abriu em muito a mente, mas há uma diferença grande em relação àquela época… Steven Pinker tem insistido que os tempos melhoram e eu concordo com ele, mas também admito (em consonância com o autor) que não há um processo uniforme, homogêneo e sim que podemos detectar grandes tendências. Como eu dizia, os filmes, a maioria de Hollywood (eu tenho mais de 50 anos hoje) eram claros em linhas morais e isto, de certo modo, corroborava o que líamos. Sempre subjacente uma ideia de “bem contra o mal”, mesmo que esse “bem” não fosse facilmente detectado como bem havia como distingui-los. Enfim, hoje percebo que há uma confusão muito grande na visão de mundo (pode ser apenas minha velhice ou má memória me traindo ao achar que antes era tudo claro e cristalino), mas muitos filmes, desenhos infantis não têm isto claramente. E nesta confusão, um sujeito como Bill Gates e seu apreço por livros não é enaltecido da mesma forma que um gangster qualquer, cuja “dor e história têm que ser compreendidos”. Como eu dizia, a confusão está em que a necessidade de compreendermos o Outro se mistrua a justificar qualquer um, por mais bizarra e anti-social que sejam suas atitudes. Divaguei, eu sei, mas lamento que a necessidade de se criar alternativas do que ler tenha provocado um abandono dos clássicos e de âncoras morais nesses tempos de mares turbulentos. Se posso resumir o que eu quis dizer, ok, temos que ler mais, mas também temos que saber o que devemos ler. Há muito lixo sendo lido por aí.

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