Gentrificação is business and business is good
Quando fiz uma disciplina na pós em Urbanismo na USP tive uma baita decepção: o raciocínio marxista também era predominante lá e não aprendi absolutamente nada sobre urbanismo clássico, a maneira do arquiteto-urbanista ver e entender a cidade, soluções, críticas a expansão, propostas alternativas etc. Não, nada disso, tudo se resumia a criticar o “modo de produção capitalista” e regulando fortemente o sistema se tinha a crença de que suas “contradições” desapareceriam ou, ao menos, seriam reduzidas.
Estávamos na época do sucesso de Barcelona, das renovações urbanas de Manhattan, da adoração à Jane Jacobs, a teórica urbana que as inspirou, desses modelos serem exportados para várias cidades globais, da consagração de Jaime Lerner, prefeito de Curitiba e elogiado pela mídia internacional etc. O que restava a estes críticos? Só modelos de planejamento com grandes zonas-dormitório e ligações com metrôs nos países ricos e críticas ao “modelo excludente” nos países pobres. Eles não tinham mais nada, tudo que criaram ao longo de décadas foi mais impostos, investimentos afugentados pela regulamentação excessiva e periferização ou guetos com altos índices de criminalidade. Por quê? Porque quando se impede a criação empreendedora, se impede que ela também chegue aos mais pobres e a pobreza passa a ser reproduzida.
O que J. Jacobs viu em seu Vida e Morte das Grandes Cidades ou outro, A Natureza das Economias foi o óbvio, a diversidade e o empreendimento criam uma “cidade viva” cheia de oportunidades, negócios, informação, informação e informação onde o multiculturalismo não separa, agrega e os imigrantes passam a ser assimilados. Além dessa faceta social o quadro ambiental urbano melhora, pois as cidades passam a se verticalizar, com mais moradores usando transporte coletivo, mais moradores caminhando e usufruindo de uma infraestrutura urbana que está mais próxima. A poluição diminui com o menor tráfego de commuting, as pessoas se exercitam ao caminhar cotidianamente, espaços comuns para crianças passam a ser usados com frequência e uma faceta um tanto esquecida renasce aos poucos, a comunicação e a gentileza entre as pessoas.
Óbvio que as viúvas do planejamento central, expressão mais civilizada para o intervencionismo estatal ou estatização pura e simples não tolerariam o sucesso da máquina que transformou a cidade em business. O que é difícil para essa gente entender é que “o Capital” não é um ente, são negócios, são capitais e quem os gere são pessoas que optaram por se relacionar. E são nessas cidades, comerciais, capitalistas, “dinheiristas” onde os espaços comuns são valorizados porque utilizados, são nelas que portos abandonados se tornam centros comerciais que agregam pessoas e crianças com seus risos que se combinam com pássaros em revoadas, são nessas cidades que o resultado de milênios de Civilização criou o Ser Civil e o nome Cidade passa a fazer todo o sentido.
Na figura abaixo, como se diz, “o choro é livre”…
Curioso como esses grandes urbanistas não se dignam a pensar sobre o espaço local, a escala próxima… Um exemplo é o estado precário de calçadas, que são justamente instrumentos por onde passeiam os cidadãos. Esta é uma visão, a outra que esse tipo de crítica despreza é essa: Centenas de milhares de calçadas em uma cidade em expansão econômica, as proteções de construções fecham as fachadas do comércio, reduzem a insolação e diminuem a visibilidade e segurança. Como reverter isso?
Tackling sheds https://t.co/oQ88mdzADr via @crainsnewyork
Quando muitas regulações se impõem sobre o meio urbano é óbvio que os empreendimentos serão muito mais seletivos para conseguirem vingar e o resultado será, inevitável: poucos irão desfrutar de seus resultados.
Agora, com maior possibilidade do empreendedorismo atuar no meio urbano, ideias simples de procedimentos por vezes complicados levam a revalorização de áreas que fornecem serviços, atraem clientes e geram empregos, em duas palavras, vida urbana.
Anselmo Heidrich
10 jul. 2018